Cláudio Cordovil

Hoje é o Dia Mundial da Fibrose Cística!

fibrose cística

 

por Cristiano Silveira

Em 2013, as várias associação de fibrose cística (FC) discutiram a ideia de criar um Dia Mundial da Fibrose Cística. Depois de alguma discussão, a data escolhida acabou sendo o 8 de setembro.

Por que 8 de setembro?

Porque foi nesse dia que, em 1989, chegou às bancas a edição da revista Science, uma das publicações de maior prestígio no meio científico, em que era descrita a localização no braço longo do cromossomo 7 do gene CFTR (do inglês, cystic fibrosis transmembrane conductance regulator). Naquela mesma edição, também foi reportado que 70% dos pacientes possuíam uma deleção de três nucleotídeos que codificam o aminoácido fenilalanina na posição 507 do gene CFTR, que ficaria conhecida por todos como delta F-508.

O que aconteceu de lá pra cá?

O conhecimento da genética da FC aumentou muito nos últimos anos. Hoje são conhecidas mais de 2 mil mutações no gene CFTR. O avanço na tecnologia de sequenciamento genômico permitiu também a democratização dos exames genéticos, e ano a ano aumenta o número de pessoas que sabem as suas mutações. Isso permitiu um maior número de diagnósticos, especialmente naquelas mutações em que não era tão simples a obtenção de diagnóstico por outros exames, e permitiu um melhor aconselhamento genético para o planejamento das famílias.

Todo esse avanço no conhecimento genético também possibilitou o desenvolvimento de novos tratamentos, uma vez que, sabendo o gene alterado, foi possível criar modelos in vivo (animais cobaias) e in vitro (células) com a mutação, testando nesses modelos diferentes terapias. Assim, surgiram novo antibióticos, anti-inflamatórios, mucolíticos…

Também foi assim que se realizaram testes utilizando-se a terapia gênica para corrigir o “defeito” no gene. Essa abordagem, que era sonhada por pesquisadores como Francis Collins, que participou do grupo responsável pela descoberta do CFTR, se mostrou muito mais complicada e também muito mais perigosa do que se imaginava. Parecia simples substituir um único gene defeituoso, mas como levar esse gene para dentro das células, “ligá-lo” e fazê-lo manter-se funcionando, tudo isso sem despertar o controle imunológico contra os agentes usados para levar o DNA corrigido para dentro do organismo?

Mesmo com todas as dificuldades, essa abordagem nunca foi abandonada, e o Consórcio de Terapia Gênica da Fibrose Cística segue publicando avanços com diferentes vetores sendo testados. O desenvolvimento de “tesouras moleculares” melhores, como o CRISPR/Cas9, também abre novas possibilidades nesse campo.

Mas o mais empolgante dessa corrida toda sem dúvida foi a aprovação em 2015 da primeira droga corretora para o tratamento do chamado “defeito básico” da FC. O ivacaftor, inicialmente desenvolvido para tratar pacientes com a mutação G551D, hoje já é usado no tratamento de mais de uma dezena de mutações e também é usado em combinação com o lumacaftor, um potenciador, no tratamento da mutação delta F508.

Hoje outros corretores e potenciadores vêm sendo desenvolvidos e aprimorados. Outras drogas que atuam inibindo diferentes canais iônicos além do CFTR também estão sendo estudadas, e o objetivo dos laboratórios é encontrar uma droga ou combinação de drogas que sirva ao maior número possível de mutações, com o objetivo de tratar todos os pacientes de FC.

Parece para quem tem uma doença grave como a FC que a ciência é lenta, mas se considerarmos as dificuldades tecnológicas envolvidas e olharmos em retrospectiva, vamos ver que muito foi feito nesses últimos 28 anos. Por isso, o 8 de setembro deve ser visto como uma data de comemoração e de mobilização para que toda essa ciência se transforme em tratamentos acessíveis e disponíveis para as pessoas com FC em todo o mundo.


Cristiano Silveira é biólogo, pais de um menino de 13 anos com FC e presidente da associação carioca de assistência à mucoviscidose, ACAM-RJ.

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