Pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Neuroepidemiologia da Universidade de Harvard encontraram fortes evidências de que a esclerose múltipla (EM) seja causada pelo vírus de Epstein-Barr (EBV), que provoca a mononucleose, mais conhecida como a “doença do beijo”. Em um grande coorte de militares acompanhados ao longo de muitos anos, a infecção com Epstein-Barr aumentou a probabilidade de desenvolver esclerose múltipla, ou EM, em mais de 32 vezes. A notícia foi publicada na revista Science.
“Nossos dados sugerem fortemente que o vírus Epstein-Barr é a principal causa de esclerose múltipla”, disse Kjetil Bjornevik, pesquisador de Harvard e principal autor do estudo. “Foi um aumento realmente dramático no risco que seria muito difícil de explicar de outra forma.”
Há mais de uma década atrás, o epidemiologista Alberto Ascherio , também de Harvard, teve um palpite de que a resposta para o que inicia a EM poderia estar congelada em algum lugar no campus do Walter Reed Army Institute of Research em Silver Spring, Maryland. O instituto vêm coletando, rastreando e armazenando (a -30 graus Celsius) sangue retirado de cada integrante das Forças Armadas norte-americanas a intervalos regulares.
Com mais de 62 milhões de amostras de mais de 10 milhões de membros ativos e de reserva, o Repositório de Soros do Departamento de Defesa é a maior coleção desse tipo no mundo. Para pesquisadores, o Repositório de Soros é como se fosse o telescópio espacial Hubble. Isso permite que eles olhem não apenas profundamente no corpo das pessoas, mas também voltem no tempo, momentos antes de as doenças em que estão interessados se instalarem.
Para a esclerose múltipla isso faz todo sentido, porque ela é mais frequentemente diagnosticada em pessoas na faixa dos 20 e 30 anos. Para localizar pessoas antes do início da doença, você precisa começar a amostragem quando elas estão na adolescência – como, digamos, quando a maioria dos recrutas se alista para o serviço militar.
Doenças virais têm na inflamação cerebral um efeito colateral bastante comum. Veja o que aconteceu recentemente com milhões de pessoas com Covid. No início dos anos 2000, Ascherio e colegas encontraram pistas de que o agente desencadeante da EM poderia ser Epstein-Barr, ou EBV, um membro particularmente comum da família do herpesvírus. O vírus foi encontrado nas regiões desmielinizadas do cérebro de pacientes com EM. E as pessoas com níveis elevados de anticorpos contra o EBV eram mais propensas a serem diagnosticadas com EM. Para provar que um causou o outro, Ascherio, co-autor do novo artigo, recorreu ao “experimento da natureza” que ocorre no Repositório de Soro. Os médicos que tratam pacientes com esclerose múltipla e estudam a doença concordaram que o trabalho mostrou que o EBV é necessário e precede o diagnóstico de EM. “Este é um artigo muito intrigante que amplia nossa compreensão do papel do EBV no desenvolvimento da EM”, disse John Corboy, neurologista e codiretor do Rocky Mountain MS Center da Universidade do Colorado.
Mas ainda é muito cedo para dizer que o vírus por si só é suficiente para causar esclerose múltipla. Por exemplo, o estudo não explica por que apenas uma pequena minoria dos infectados com EBV desenvolve EM. “Isso deixa muitas perguntas sobre a patogênese sem resposta”, escreveu Corboy.