Cláudio Cordovil

Science: Estudo sugere que infecção viral deflagra esclerose múltipla

Pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Neuroepidemiologia da Universidade de Harvard encontraram fortes evidências de que a esclerose múltipla (EM) seja causada pelo vírus de Epstein-Barr (EBV), que provoca a mononucleose, mais conhecida como a “doença do beijo”. Em um grande coorte de militares acompanhados ao longo de muitos anos, a infecção com Epstein-Barr aumentou a probabilidade de desenvolver esclerose múltipla, ou EM, em mais de 32 vezes. A notícia foi publicada na revista Science.

“Nossos dados sugerem fortemente que o vírus Epstein-Barr é a principal causa de esclerose múltipla”, disse Kjetil Bjornevik, pesquisador de Harvard e principal autor do estudo. “Foi um aumento realmente dramático no risco que seria muito difícil de explicar de outra forma.”

Há mais de uma década atrás, o epidemiologista Alberto Ascherio , também de Harvard, teve um palpite de que a resposta para o que inicia a EM poderia estar congelada em algum lugar no campus do Walter Reed Army Institute of Research em Silver Spring, Maryland. O instituto vêm coletando, rastreando e armazenando (a -30 graus Celsius) sangue retirado de cada integrante das Forças Armadas norte-americanas a intervalos regulares.

Com mais de 62 milhões de amostras de mais de 10 milhões de membros ativos e de reserva, o Repositório de Soros do Departamento de Defesa é a maior coleção desse tipo no mundo. Para pesquisadores, o Repositório de Soros é  como se fosse o telescópio espacial Hubble. Isso permite que eles olhem não apenas profundamente no corpo das pessoas, mas também voltem no tempo, momentos antes de as doenças em que estão interessados ​​se instalarem.

Para a esclerose múltipla isso faz todo sentido, porque ela é mais frequentemente diagnosticada em pessoas na faixa dos 20 e 30 anos. Para localizar pessoas antes do início da doença, você precisa começar a amostragem quando elas estão na adolescência – como, digamos, quando a maioria dos recrutas se alista para o serviço militar.

Doenças virais têm na inflamação cerebral um efeito colateral bastante comum. Veja o que aconteceu recentemente com milhões de pessoas com Covid. No início dos anos 2000, Ascherio e colegas encontraram pistas de que o agente desencadeante da EM poderia ser Epstein-Barr, ou EBV, um membro particularmente comum da família do herpesvírus. O vírus foi encontrado nas regiões desmielinizadas do cérebro de pacientes com EM. E as pessoas com níveis elevados de anticorpos contra o EBV eram mais propensas a serem diagnosticadas com EM. Para provar que um causou o outro, Ascherio, co-autor do novo artigo, recorreu ao “experimento da natureza” que ocorre no Repositório de Soro. Os médicos que tratam pacientes com esclerose múltipla e estudam a doença concordaram que o trabalho mostrou que o EBV é necessário e precede o diagnóstico de EM. “Este é um artigo muito intrigante que amplia nossa compreensão do papel do EBV no desenvolvimento da EM”, disse John Corboy, neurologista e codiretor do Rocky Mountain MS Center da Universidade do Colorado.

Mas ainda é muito cedo para dizer que o vírus por si só é suficiente para causar esclerose múltipla. Por exemplo, o estudo não explica por que apenas uma pequena minoria dos infectados com EBV desenvolve EM. “Isso deixa muitas perguntas sobre a patogênese sem resposta”, escreveu Corboy.

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