Cláudio Cordovil

Reuso de fármacos é alternativa de acesso em doenças raras

O Consórcio Internacional de Pesquisa em Doenças Raras (IRDiRC) apresentou um manual pioneiro com a meta de revitalizar o processo de reutilização (repurposing) de fármacos para o enfrentamento de doenças raras. A novidade foi anunciada pela Nature Reviews Drug Discovery, em 23/10/2023.

A reutilização de fármacos, que consiste em reavaliar medicamentos já aprovados para novos usos terapêuticos, é considerada uma resposta promissora para a criação de tratamentos para as aproximadamente 6 mil a 8 mil doenças raras identificadas.

Esta abordagem é valorizada por sua capacidade de acelerar o desenvolvimento de terapias de forma eficaz e com custo-benefício, lançando mão de informações já existentes referentes à segurança e características farmacocinéticas dos medicamentos em seres humanos.

No entanto, a área enfrenta uma série de obstáculos, como:

  • dilemas de propriedade intelectual
  • insuficiência de conhecimento sobre o processo de desenvolvimento de medicamentos por parte de entidades sem fins lucrativos
  • e desafios na comercialização devido à ausência de modelos de negócios sustentáveis.

Para lidar com estes obstáculos, o IRDiRC desenvolveu o Manual de Reutilização de Fármacos (DRG), expandindo os recursos inicialmente fornecidos pelo Manual de Desenvolvimento de Medicamentos Órfãos (ODDG).

O DRG foi criado por um grupo de trabalho de 23 especialistas de várias áreas, proporcionando uma coleção de “blocos de construção” – ferramentas e práticas vitais para apoiar os projetos de reutilização de fármacos.

Entre elas, destacam-se a interação com os titulares de autorizações de comercialização, patentes, acesso a dados, elaboração de ensaios clínicos para reutilização de fármacos, e ferramentas para acessar bancos de dados de compostos e redes.

Para verificar a eficácia do DRG, foram executados três programas de desenvolvimento ‘simulados’, representando diferentes cenários de reutilização de fármacos. Estes programas ajudaram na elaboração de uma lista de verificação e um gráfico de atividades, que podem ser usados por desenvolvedores para apoiar seus projetos de reutilização de fármacos.

O DRG, com seu formato bem organizado e interativo, promove uma estratégia eficiente para a reutilização de fármacos, auxiliando um amplo espectro de stakeholders – acadêmicos, profissionais de saúde, pequenas e médias empresas, e grupos orientados por pacientes – para lidar com o complexo ambiente de desenvolvimento de terapias para doenças raras.

Assim, o manual pode impulsionar a reutilização de fármacos como uma solução tangível para doenças raras que estão em desesperada necessidade de opções terapêuticas.

author avatar
Cláudio Cordovil Pesquisador em Saúde Pública
Jornalista profissional. Servidor Público. Pesquisador em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz). Especializado em Doenças Raras, Saúde Pública e Farmacoeconomia . Mestre e Doutor em Comunicação e Cultura (Eco/UFRJ). Prêmio José Reis de Jornalismo Científico concedido pelo CNPq.

Deixe um comentário