Cláudio Cordovil

Paula Menezes: “Protocolo clínico da hipertensão pulmonar é um dos piores do mundo”

O Protocolo Clínico da Hipertensão Arterial Pulmonar foi discutido, nesta terça-feira (8/8), pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. O objetivo era reavaliar os termos do protocolo objeto de portaria do Ministério da Saúde, de janeiro de 2014, que, segundo especialistas e representantes de organizações de pacientes, encontra-se bastante desatualizado.

O protocolo contém o conceito geral da hipertensão arterial pulmonar, critérios de diagnóstico, de tratamento e mecanismos de regulação, controle e avaliação. É de caráter nacional e deve ser utilizado na regulação do acesso assistencial, autorização, registro e ressarcimento dos procedimentos correspondentes.

Na referida audiência pública, a presidente da Associação Brasileira de Amigos e Familiares de Portadores de Hipertensão Pulmonar (Abraf), Paula Menezes, disse que o protocolo brasileiro de hipertensão pulmonar está entre os piores no mundo.

Destacou também que a proibição da terapia combinada e a falta de opções terapêuticas para o paciente são os principais pontos a serem questionados no protocolo.

Para ela, o princípio da equidade, sacrossanto para o Sistema Único de Saúde, está sendo violado . “A não incorporação de medicamentos no protocolo, por suposta falta de evidência ou por custo alto, fere gravemente o princípio da equidade do direito, que é o princípio da justiça natural.”

O protocolo brasileiro para hipertensão pulmonar está entre os piores do mundo.

Paula Menezes, presidente da Abraf

“Exigir a mesma robustez de evidências cientificas para doença rara, onde o número de amostragem é menor que uma doença de alta incidência, ou exigir que o preço de um medicamento de uma doença rara seja o mesmo preço do de uma doença comum, é ferir esse princípio”, revelou a líder da Abraf.

O consultor técnico do Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde, do Ministério da Saúde, Daniel Zanetti, após consumir grande parte dos seus 15 minutos de exposição apresentando a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec) de um ponto de vista meramente institucional e burocrático, alegou que os protocolos seguem as melhores evidências científicas disponíveis, ainda que estas sejam não tão perfeitas.

A médica e representante do Grupo de Circulação Pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia (SBP), Verônica Amado, alertou os presentes sobre a gravidade da doença “Em três anos, a sobrevida dos pacientes foi de 74%. Ou seja, cerca de 30% deles faleceram. Este é um prognóstico tão sombrio quanto o do câncer”, observou.

Amado destacou também o fato de esta doença acometer no Brasil, em sua modalidade idiopática, individuos com 39,8 anos de idade, especialmente do sexo feminino. “Trata-se de pacientes jovens, em idade produtiva e constituindo família”.

A representante do Grupo de Circulação Pulmonar da SBP apresentou inúmeros problemas do referido protocolo, como “condicionar o início do tratamento a um resultado de um teste de esforço mais comprometido”. Segundo a pneumologista, “isso não existe na literatura [médica] internacional. Paciente que tem esse diagnóstico, se ele tem sintomas, ele deve ser tratado. Não interessa se ele consegue ou não caminhar seis minutos”, assegurou.

A pneumologista também revelou que, apesar de a terapia combinada não estar prevista no protocolo, já existem evidências que são eficazes. “As evidências são ainda mais fortes quando se planeja iniciar o tratamento com duas medicações, pelo menos”, ressaltou.

A audiência pública foi solicitada pela Deputada Zenaide Maia (PR-RN) através do requerimento 496/17, subscrito pelo deputado Adelson Barreto Silas Freire e pela deputada Conceição Sampaio. Na ocasião, a deputada pediu a inclusão do maior número possível de terapias no protocolo: “Existem novas tecnologias, novos estudos sobre o tema, e é normal que todos queiram viver mais”

Deixe um comentário

error: Corta e cola, não!

REPUBLISHING TERMS

You may republish this article online or in print under our Creative Commons license. You may not edit or shorten the text, you must attribute the article to Academia de Pacientes and you must include the author’s name in your republication.

If you have any questions, please email ccordovil@gmail.com

License

Creative Commons License AttributionCreative Commons Attribution
Paula Menezes: “Protocolo clínico da hipertensão pulmonar é um dos piores do mundo”
Verified by MonsterInsights