Cláudio Cordovil

Um manifesto pela vida! Contra as forças do mal!

Interrompemos nossa programação normal para falar de Política, com P maíúsculo! A parcela de homens e mulheres de bem ainda restante neste País ficou horrorizada com a recente divulgação autorizada pelo ministro do STF, Celso de Mello, de vídeo de reunião ministerial, citada por Sergio Moro, como prova de tentativa do presidente de interferir na Polícia Federal.

Entre os escandalizados, acredito que se encontrem muitos (nem todos) doentes raros, seus familiares e cuidadores, a quem venho me dirigindo habitualmente através desse blog desde agosto de 2017.

Os recentes acontecimentos que têm como pano-de-fundo uma pandemia que é “gripezinha-para-atletas” mas que têm matado milhões de pessoas em todo o planeta (seriam eles sedentários?) têm me levado a pensar na necessidade cada vez mais urgente de alfabetização política dos doentes raros, de caráter suprapartidário e focada em direitos humanos, cidadania e equidade.

Nos dias que sucederam a exibição do patético e constrangedor vídeo (vergonha alheia total!), um grande debate vem sendo travado em todo o país pelo que nele resta de correntes democráticas e forças sociais progressistas . A avaliação que estas forças democráticas e progressistas fazem é a de que a situação política no país chegou a um ponto insustentável. E se está insustentável para pessoas ditas “normais”, para os raros, sempre alvo de uma necropolítica de Estado, em meio a migalhas de concessões de direitos, certamente vai piorar bastante, se nada for feito.

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Pouco antes da divulgação do vídeo constrangedor, recheado de palavrões, onde sobre tudo se falou e sobre nada se deliberou, uma personagem do mundo das redes sociais começou a ganhar um destaque impressionante na grande imprensa. A pista de que algo estava acontecendo de relevante nas mídias digitais naquele momento, sem que muitos de nós percebessem, foi o fato de ser ele convidado para o programa Roda Viva, na condição de entrevistado. Trata-se do influenciador digital, Felipe Neto.

A importância que este influenciador digital tem neste momento dramático de nossa História tem a ver com o fato de que, lastreado por seu público fiel de dezenas de milhões de pessoas, este jovem de 32 anos está sendo considerado uma das forças políticas mais promissoras para fazer frente à escalada autoritária pela qual estamos passando.

Não só ele. Mas junto com ele a cantora Anitta (que dispensa apresentações) e o humorista Windherson Nunes (idem). Eles estão sendo considerados como representantes de uma nova força política que pode fazer frente à barbárie que se desenha no horizonte, dada a total incapacidade de a oposição democrática deste país fazer frente a este estado de coisas.

Barbárie para os raros também, é bom que se diga. O que se desenha no horizonte vai penalizar a todos (os que raciocinam!), e naturalmente, de forma mais impiedosa, os injustiçados de sempre, entre os quais os raros têm representado um naco de carne apetitoso para as forças do atraso que sempre dominaram este país.

via GIPHY

Assim, nos próximos parágrafos, gostaria de lhes propor alguma alfabetização política, necessária para que se mantenham vivos, neste período de pandemia viral e peste autoritária.

A primeira coisa que gostaria de fazer seria lhes recomendar fortemente que assistam o minicurso de introdução política (digamos assim) que Anitta (sim ela mesma, meus senhores!) está promovendo no YouTube, com a participação de pessoas que entendem de política, como Alessandro Molon, Gabriela Priolli, entre outros.

Anitta fez algo sensato. Partindo da admissão explícita e reconhecimento humilde de sua total ignorância política, e vendo que a chapa estava esquentando, e que não ia sobrar toddynho pra ninguém, ela resolveu socializar suas conversas com estes convidados, num muito interessante curso de alfabetização política, do tipo conversa com amigos.

Você pode ver estes vídeos aqui e aqui.

A outra parte desse post, que já se alonga um pouco mais que o desejável (mas de forma urgentemente necessária), é para reproduzir trechos de um artigo de Wilson Gomes, professor da UFBa, sobre a recente aparição de Felipe Neto no Roda Viva e esta nova geração de ativistas políticos com grande audiência que pode representar a salvação da lavoura nesses tempos de enlouquecido obscurantismo.

Como nunca compactuei com governos obscurantistas, e vocês me conhecem, não seria agora que eu permaneceria calado, vendo o Titanic afundar no salão onde os músicos tocam. Resistiremos. Sempre!

Seguem alguns trechos:

O ódio é um bom combustível para a escolha eleitoral, como aprendemos em 2018, mas não enche a barriga, não protege a sua vida nem a da sua família, não defende a democracia contra o autoritarismo, não garante justiça, respeito nem a possibilidade de uma vida em comum. E assim, maio de 2020 é o mês em que a ficha dos brasileiros finalmente cai, para além da bolha politizada dos progressistas. A constatação que se espalha contagiosamente nessa pandemia é que estamos desamparados. No momento em que mais precisamos de um líder inteligente, competente, com capacidade de liderança e trabalhando incansavelmente pelo país, o que encontramos é exatamente o oposto disto: um governo estúpido, incompetente, incapaz de liderar e que dedica energia apenas às pautas mais excêntricas, que nada têm a ver com as reais necessidades do país.

Enfim, os brasileiros notaram que o governo está nu. Não, corrijo, que o governo é nu, pateticamente desprovido de recursos e forças capazes de tirar o país desta situação, um vazio de ideias úteis, um fiapo de autoridade moral, um nada quando despojado do agora já inútil discurso ideológico e fanático. Notaram que somos governados por um discurso, por umas encenações, umas frases de efeito, um espetáculo, sem energia, sem substância, sem matéria.

Nas últimas duas semanas, a desafeição por Bolsonaro como governante e o desgosto com o bolsonarismo como doutrina alcançaram um novo e influente conjunto da sociedade. Um curioso segmento que até então não se havia mobilizado para enfrentá-lo, seja porque a agenda dele se movia por outras prioridades, seja porque a enorme polarização política, que alcançou o seu máximo em 2019, havia se tornado uma perigosa armadilha para quem não retira da política o seu reconhecimento social ou o seu sustento. Refiro-me ao mundo dos influenciadores sociais, dos grandes monopólios de capital social, portanto, de reconhecimento e prestígio, no admirável mundo novo digital.

Sim, senhores, tiozinhos e tiazinhas engajadas na política nacional, abram alas para Anitta, Felipe Neto e Whindersson Nunes, que uma nova força política entrou em campo. Os vídeos em que Anitta se instrui, com Gabriela Prioli e com Alexandre Molon, sobre o que é e como funciona a vida pública, são provavelmente o melhor curso fundamental de política que se poderia formular para a maioria dos brasileiros neste momento. Inclusive sem esconder as verdades sobre o que se passa no país sob o regime bizarro do bolsonarismo. O manifesto de Felipe Neto contra os avances autoritários de Bolsonaro, e a sua convocação dos influenciadores, celebridades e intelectuais públicos digitais para reagir ao perigo que isso representa para a democracia e a nossa vida, são provavelmente o material mais vigoroso de reação ao bolsonarismo produzido desde o início da pandemia. Por fim, a entrevista do mesmo Felipe Neto ao programa Roda Viva, um assombroso estouro de público e impacto, consolidou o youtuber com um dos mais potentes atores antibolsonaristas neste momento.

(…)

Anitta tem 46 milhões de seguidores só no Instagram. Felipe Neto tem 38 milhões de inscritos no YouTube e 11,5 milhões no Twitter. Whindersson, que passou as duas últimas semanas alfinetando Bolsonaro, tem 33 milhões inscritos no seu canal no YouTube, mas, somando todos os fãs nas principais plataformas digitais, é acompanhado por mais de 73 milhões de pessoas. Acham pouco? Então pensem que Bolsonaro foi eleito por 57,7 milhões de votos e hoje deve ser ainda apoiado por algo que se estima em torno de 35 milhões de apoiadores ativos. Assim, quem é a esquerda ou até mesmo Bolsonaro na fila do pão para enfrentar esse novos jogadores se eles realmente entrarem em campo?

(…)

O fato é que temos um cara que apoia ideias liberal-democratas e “normaliza” narrativas progressistas de forma que passem pelos filtros antipetistas e cheguem a públicos fora do alcance da esquerda. O que é mais produtivo fazer diante disso? Ver nele um aliado de uma frente ampla pela restauração de um regime político democrático e republicanamente virtuoso ou abrir fogo contra ele por não ser um representante da esquerda da sua imaginação? Pois eu acho que deveriam era levantar as mãos para os céus e agradecer que Felipe Neto, Anitta e Whindersson estejam do lado progressista da Força, que, neste momento, é o oposto de onde o bolsonarismo está.

2 comentários em “Um manifesto pela vida! Contra as forças do mal!”

  1. Excelentes colocações, Cláudio!
    Acho que está ocorrendo hoje é, infelizmente, subproduto das besteiras que os poderes constituídos (juntando, aqui, poderes executivo, legislativo e até judiciário) anteriores fizeram. Não apenas permitiram que se aprofundasse a distância entre as classes sociais mas também se locupletaram disso, usando a população mais carente como massa de manobra. Há muito o que se falar sobre as causas que trouxeram gente como Bolsonaro ao poder, mas acho que as pessoas que tem mais de um olho podem ver que a promessa de que ele ia fazer um governo respeitável está ruindo. Não adianta ser um presidente autoritário, ainda mais se esse autoritarismo só visa atender a seus anseios pessoais. Fico por aqui, mas volto a parabenizá-lo pelo conteúdo

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