Cláudio Cordovil

Gattaca e O Preço do Amanhã: vale a pena ver de novo!

bioética, eugenia, genética

 

Gattaca (1997) é um sensacional filme sobre uma sociedade futura onde a manipulação genética é encorajada. Um futuro cada vez mais presente, a julgar pelos movimentos tectônicos que engendram as mudanças sociais contemporâneas e que têm na Biotecnologia seu agente motor.

Os realizadores do filme atuam como bioeticistas abordando três questões fundamentais:

  1. discriminação genética
  2. as implicações culturais da genética preditiva
  3. a perda da diversidade humana

Ele propriamente não culpa a tecnologia em si , mas sim o determinismo genético, a noção ideológica de que não somos mais que um punhado de genes.

Empregando a linguagem de Bruno Latour, o filme tenta abrir a caixa preta tão engenhosamente criada pelos cientistas que apreciam falar de um mundo dominado por genes, narrativa que se apresenta cotidianamente nas páginas de ciência de nossos jornais diários.

O Preço do Amanhã

Um filme que estreou em 2012 nos propõe uma reflexão sobre a sociedade que estamos criando com os avanços da Biomedicina.

Trata-se de O preço do amanhã (In time), de Andrew Niccol, o mesmo autor/diretor do sensacional e bastante plausível Gattaca. (Clique aqui para ver o trailer de O preço do Amanhã).

No mundo agora criado por Niccols, através de engenharia genética, as pessoas são programadas para viverem até os 25 anos. Se quiserem viver mais, têm que trabalhar duro para conseguir mais dias de vida. O tempo é a nova moeda, numa transposição sugestiva do dito “tempo é dinheiro”.

Nesta sociedade, naturalmente, os mais ricos vivem mais do que 25 anos, e praticamente se tornam imortais, algo que, de algum modo, sugere o que se passa na vida real com as elites e suas técnicas de prolongamento da vida e aperfeiçoamento de corpos.

A quase imortalidade dos “ricos-em-tempo” do filme é mantida à custa da morte precoce dos mais pobres. Nos guetos dos “pobres-em- tempo”, a vida é agitada, o tempo é curto, é preciso correr. No mundo dos “ricos-em-tempo”, a vida é tranquila, sem atropelos.

Outra sugestão para nossos dias de hoje que o filme nos apresenta é que, lá como aqui, pobreza e expectativa de vida estão ligadas.

A mídia brasileira cansa de representar esta situação, vasculhando filas desumanas nos hospitais do SUS. Bilhões de pessoas, no planeta Terra, real, têm péssimas condições de acesso a tratamentos para doenças elementares, preveníveis e curáveis. Os cuidados pré-natais ainda são sonho distante para muitas mulheres no planeta Terra de verdade. Já as ricas podem programar, em tese, até a cor dos olhos de seus rebentos.

A injustiça econômica ganha novas dimensões neste filme de ficção científica, que nos permite ver, sob um novo olhar, a injustiça real de cada dia.

No entanto, a desigualdade racial, que normalmente anda atrelada à injustiça econômica, não é adequadamente tratada em O preço do amanhã; é ignorada. Pobreza e injustiça econômica são profundamente racializadas no mundo real, dimensão descurada pelo filme.

Em tempos de reflexão sobre a saúde global, não deixa de ser oportuno assistir O preço do amanhã.

Você já viu algum destes filmes? O que achou? Conte pra gente ! 

1 comentário em “Gattaca e O Preço do Amanhã: vale a pena ver de novo!”

  1. O preço do amanhã
    O filme “O Preço do Amanhã” mexeu profundamente comigo. As pessoas carregam no pulso o relógio que marca seu tempo de vida… Não pude deixar de comparar esse relógio com a medicação que recebo a cada 14 dias no Hospital das Clínicas. Tenho uma doença rara, Hemoglobinúria Paroxística Noturna, que é uma doença muito grave e mortal sem o tratamento. Só existe um medicamento disponível no mundo para essa enfermidade que custa muito caro e é impossível ser comprado por qualquer pessoa que dele necessite! Há 4 anos vou ao hospital para fazer a infusão do medicamento que consegui através de uma ação judicial contra a União lutando por um direito que está claro em nossa Constituição em seu Art. 196 “Saúde é um Direito de Todos e um Dever do Estado”. Sinto que o efeito do medicamento começa a passar no 12º dia, são como os ponteiros do relógio do filme, “meu relógio” vai diminuindo seu tempo… No hospital, gota a gota o remédio vai entrando pelas minhas veias e vou sentindo a esperança de seguir viva pulsando em mim. Tudo parece muito simples e até bonito, mas cada vez o acesso a esse direito é mais difícil e mesmo com a ação ganha, nos é negado o medicamento, tem ocorrido atraso na compra desse e vidas já se perderam. Sem ele, os médicos falam que não chego a viver 2 anos. Assim como no filme, querem limitar nossa vida! Não tenho medo da morte, mas enquanto eu viver, vou lutar pela garantia do direito ao tratamento, não só meu, mas de todas as pessoas com doenças raras, que levam consigo esse “relógio”.

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