A audiência pública promovida na segunda-feira (11/8) pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado e que tinha como finalidade “debater e esclarecer questões relacionadas aos temas: Esclerose Múltipla, Neuromielite Optica, Miastenia Gravis e Esclerose Lateral Amiotrófica”, expôs com nitidez a sobreposição entre o debate técnico e a agenda política da extrema-direita. Protagonista da sessão, a senadora de oposição Damares Alves — ex-ministra de Jair Bolsonaro e uma das principais aliadas políticas do ex-presidente atualmente em prisão domiciliar por investigações sobre tentativa de golpe de Estado — usou o microfone para mobilizar indignação. Ela reafirmou sua base política e transformou o espaço legislativo em peça de autoengajamento.
Se, por definição, audiências públicas servem para fomentar propostas qualificadas e embasar decisões sobre políticas públicas, o que se viu foi o desvio sistemático do objetivo institucional. Desde o início, Damares reiterou narrativas de cunho dramático, num esforço marcado por emotividade, polarização e personalização das causas — ingredientes típicos da retórica eleitoral. Seu discurso resgatou supostos feitos históricos, celebrou a própria trajetória na pauta dos “raros” e reforçou antagonismos ao associar o governo federal e o Ministério da Saúde ao descaso e à negligência.
O uso frequente de relatos pessoais — como episódios de sofrimento físico, adoção de criança indígena e enfrentamento direto à burocracia estatal — opera como recurso retórico para consolidar sua imagem de porta-voz legítima dos excluídos e “injustiçados”. Ao invocar indignação e apelar à empatia do público, a senadora converteu o espaço técnico em plataforma de autopromoção, ignorando os limites entre argumentação qualificada e mobilização ideológica.
A gravidade da situação é amplificada pelo contexto institucional: Damares age num cenário em que o ex-presidente Bolsonaro, seu mentor e principal aliado, enfrenta prisão domiciliar por tentativa de subverter o Estado democrático de direito. O microfone do Senado, assim, serve não apenas à crítica de políticas públicas, mas à manutenção do capital político da extrema-direita, em ambiente tipicamente hostil ao Executivo federal.
O saldo é preocupante. A apropriação do fórum institucional — que deveria ser voltado à escuta técnica, ao embasamento de políticas e aos encaminhamentos concretos para pacientes com doenças raras — acaba rebaixada a instrumento de polarização e espetáculo midiático. O discurso, por mais envolvente e afetivo que seja, dilui propostas de interesse público e privilegia a lógica da mobilização, da autolegitimação e da perpetuação da base eleitoral ultraconservadora.
A audiência pública, nesse contexto, funciona menos como arena de construção coletiva e mais como palco de narrativas e antagonismos. O risco de tal expediente é claro: pautas urgentes como doenças raras acabam instrumentalizadas por agendas de poder, tornando-se reféns do embate ideológico e prejudicando avanços concretos. O evento escancarou — mais uma vez — a falta de compromisso da extrema-direita em fortalecer a institucionalidade do debate parlamentar, preferindo explorar vulnerabilidades sociais como trampolim eleitoral e território de disputa simbólica.
Na sexta-feira, 15/8, publicaremos a cobertura do evento.
Foto : Geraldo Magela /Agência Senado
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