Cláudio Cordovil

Promessa rara, fraude comum: Hospital para raros em Jales, apadrinhado por Zambelli, foragida, nunca saiu do papel


Quando a esperança vira escombro: a dor de quem espera por um hospital que nunca virá.

A promessa de construção de um hospital para doenças raras em Jales (SP) foi enterrada sem cerimônia. O terreno de 55 mil m², avaliado em R$ 35 milhões e doado ao projeto pela diretoria do Jales Clube, teve sua doação revertida discretamente em cartório em 2023. Com isso, o ambicioso plano articulado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e pela Casa Hunter foi oficialmente abandonado. O dinheiro prometido — R$ 3,7 milhões em emenda parlamentar, com previsão de outros R$ 4 milhões — nunca chegou. Uma fonte ligada ao partido de Zambelli foi categórica: “Essa verba nunca existiu”.

O projeto havia sido alardeado em eventos públicos, com discursos inflamados de Zambelli, vídeos no YouTube e cobertura de imprensa. Em julho de 2022, às vésperas da eleição, ela chegou a anunciar o lançamento da pedra fundamental para agosto daquele ano, o que nunca aconteceu. Mesmo assim, foi a deputada federal mais votada de Jales. Agora, Zambelli está foragida, alvo de um mandado de prisão preventiva e na lista de difusão vermelha da Interpol, após ser condenada a 10 anos de prisão por falsidade ideológica e invasão ao sistema do CNJ.

O episódio em Jales contrasta fortemente com o que foi anunciado com pompa na abertura da 6ª edição do Cenário das Doenças Raras no Brasil, em São Paulo. Na ocasião, o então secretário executivo de Relações Institucionais da Prefeitura, João Cury, e a própria Zambelli prometeram outro hospital para doenças raras — desta vez, na Vila Mariana, na capital paulista. O terreno, segundo Cury, teria 1.800 m², doado pelo município. Já Zambelli afirmou ter destinado mais de R$ 10 milhões em emendas federais para a iniciativa, que seria conduzida pela Casa Hunter.

A deputada Carla Zambelli (sexta da esq para dir. ) anunciou verbas parlamentares para a causa, no 6º Cenário das Doenças Raras, em 2021, promovido pela Casa Hunter

À luz dos acontecimentos em Jales, as promessas feitas para a capital paulista ganham novo contorno: o que há de concreto neste novo projeto? A Casa Hunter não teria respondido aos pedidos de esclarecimento feitos pelo jornal A Tribuna, de Jales, até o fechamento da matéria que deu origem a este post, datada de 7/11/2023. O silêncio contrasta com o impacto que a notícia do suposto novo hospital gerou entre pacientes e familiares de pessoas com doenças raras.

A repetição do enredo preocupa. Em ambas as ocasiões, o nome da deputada Carla Zambelli aparece como protagonista das promessas financeiras, sempre acompanhadas de grande exposição pública, mas sem execução comprovada. Agora, foragida e sem prestar esclarecimentos, sua credibilidade política e seu compromisso com a causa rara estão naturalmente em xeque.

O caso expõe um padrão: a instrumentalização de uma pauta sensível como a das doenças raras para fins de promoção eleitoral e pessoal, sem que a população vulnerável, que mais precisa de serviços de saúde estruturados, veja qualquer benefício real.

Para a comunidade de raros, o alerta é claro — promessas políticas, mesmo quando embandeiradas com empatia e urgência, precisam ser acompanhadas de vigilância pela sociedade, prestação de contas e execução real. Palavras, o vento leva.

Com informações veiculadas no jornal A Tribuna, em 7/11/2023.


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Imagem gerada por Inteligência Artificial.

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Cláudio Cordovil Pesquisador em Saúde Pública
Jornalista profissional. Servidor Público. Pesquisador em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz). Especializado em Doenças Raras, Saúde Pública e Farmacoeconomia . Mestre e Doutor em Comunicação e Cultura (Eco/UFRJ). Prêmio José Reis de Jornalismo Científico concedido pelo CNPq.

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