Cláudio Cordovil

Pompe e Mesotelioma de Pleura com consultas públicas na CONITEC

 

A COVID-19 está aí, mas a vida parece que tem que continuar. A CONITEC fez anunciar, no Diário Oficial da União (DOU), em 25 de março, em plena pandemia, duas novas consultas públicas, com prazo final para contribuições dos interessados NO DIA DE HOJE!

Trata-se de notícia boa e/ou ruim. Depende do referencial, como diria seu professor de Física. Boa, porque, de fato, os pacientes não podem esperar e já se observam impactos no ciclo da assistência farmacêutica em doenças raras em vários países do mundo. Ruim, porque, com as pessoas mais preocupadas em manter-se vivas, a mobilização para participação nas consultas públicas provavelmente será menor do que a desejada. Seria esta a intenção?

Outra notícia não muito boa foi a decisão de não-incorporação do riociguate (Bayer) para o tratamento de um determinado tipo de hipertensão pulmonar.

São consultas públicas para o PCDT da Doença de Pompe e para avaliação de propostas e diretrizes para diagnóstico e tratamento do Mesotelioma Maligno de Pleura (MMP).  Para saber o que é um PCDT clique aqui

Demandado pelo próprio Ministério da Saúde, o PCDT sob consulta para Doença de Pompe foi elaborado após a incorporação, em outubro do ano passado, do medicamento alfa-alglicosidase como opção terapêutica. Com recomendação inicial favorável do Plenário (veja aqui o relatório inicial), o PCDT orienta critérios para diagnóstico e monitoramento desses pacientes, além do tratamento medicamentoso e não-medicamentoso.

O que é a Doença de Pompe?
A doença de Pompe é uma condição genética rara, causada pela deficiência da enzima GAA (alfa-alglicosidase ácida) que, em falta, provoca um acúmulo excessivo de glicogênio, principal reserva energética das células do fígado e músculos. Essa alteração gera disfunções no funcionamento celular que podem levar ao enfraquecimento muscular progressivo, insuficiência cardíaca e respiratória e até mesmo a morte. Há, no Brasil, em torno de 106 pacientes em tratamento com a terapia de reposição enzimática (TRE) com a alfa-alglicosidase. Essa é a única opção farmacológica existente no mundo para tratar a doença. O diagnóstico precoce e o acompanhamento adequado em atendimento especializado são essenciais para bons resultados do tratamento e redução das complicações.

As contribuições enviadas durante a Consulta Pública, CUJO PRAZO TERMINA HOJE! , auxiliam a elaboração deste PCDT. Nesse momento, especialistas, pacientes, profissionais de saúde e demais envolvidos com o tema podem opinar sobre a proposta do texto do PCDT. Para participar, clique aqui.

O pediatra e alergista Welton Correia Alves, que vive com Doença de Pompe e é presidente da Associação Brasileira de Pompe (Abrapompe), aponta problemas no PCDT.

“Um deles é o fato de se ter um longo período para firmar o diagnóstico em uma doença que tem sintomas e sinais iniciados na infância e adolescência. Quando este paciente chegar à vida adulta, não poderá candidatar-se ao tratamento, porque o PCDT só contempla pessoas com menos de 17 anos de idade.

Ele também critica o discutível conceito de ‘economia para os cofres públicos’ embutido na proposta de PCDT , ora em consulta pública.

“Não há razão para excluir os pacientes adultos de Doença de Pompe do acesso ao medicamento”. E prossegue “É um equívoco que deve ser corrigido, pois o remédio produz efeitos e mantém a qualidade de vida desses pacientes”. Welton adverte que a não ser revisto este critério de exclusão “serão mantidas as ações judiciais de interessados e o próprio Estado estará patrocinando a judicialização da saúde, com custos maiores que o do próprio tratamento, tanto para o paciente como para o Estado, que tem que comprar sem planejamento e com preço maior”.

Mesotelioma Maligno de Pleura (MMP)

A Conitec quer ouvir a sociedade sobre a proposta de texto para as Diretrizes Diagnósticas para Mesotelioma Maligno de Pleura (MMP). O documento irá sistematizar e padronizar os procedimentos diagnósticos disponibilizados no SUS e direcionar os cuidados e o tratamento. A proposta é, com a elaboração dessas orientações, traçar a real dimensão dos casos da doença no país, passo fundamental para gerir as ações do Ministério da Saúde relacionados ao tema.

O que é o Mesotelioma Maligno de Pleura (MMP)?
O MMP é um câncer raro que acomete as membranas que envolvem os pulmões. Está associado à exposição ocupacional e ambiental a fibras de asbesto ou amianto. O asbesto é constituído por feixes de fibras minerais finas e longas facilmente separáveis, que tendem a produzir um pó de partículas que podem ser facilmente inaladas ou engolidas. Esse material é utilizado na indústria para produção de isolante térmico, acústico e elétricos. Os sintomas mais frequentes da doença são dispneia, dor torácica, tosse, perda de peso, perda ou diminuição da força física e fadiga. O MMP deve ser investigado em indivíduos acima de 30 anos, que apresentem no raio x derrame pleural associado a um destes sintomas e que tenham sido expostos por um longo período ao asbesto. Para um diagnóstico correto é necessário verificar o histórico do paciente, os exames físicos, patológicos e de imagem.

Especialistas, pacientes, profissionais de saúde e demais envolvidos com o tema podem opinar sobre a proposta do texto das diretrizes diagnósticas do MMP. O PRAZO TERMINA HOJE !!! Para participar, basta clicar aqui.

RIOCIGUATE

E não foi dessa vez, infelizmente! O riociguate, comercializado pela Bayer S.A sob a marca AdempasⓇ, único tratamento medicamentoso disponível para a hipertensão pulmonar tromboembólica crônica (HPTEC) inoperável ou recorrente persistente. A Conitec optou por não incorporar o medicamento ao SUS.

Isso depois de apontarmos nesse blog vícios prováveis destes processos de avaliação e depois de a Consulta Pública ter recebido 3.384 contribuições da sociedade, sendo que 90% delas positivas.

A Associação Brasileira de Amigos e Familiares de Portadores de Hipertensão Arterial Pulmonar (Abraf) pretende recorrer da decisão. Nas palavras de sua dirigente, Paula Menezes,  ela “desrespeita os preceitos da administração pública, as evidências científicas e o direito à vida e à saúde”.

Com informações da CONITEC

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Cláudio Cordovil Pesquisador em Saúde Pública
Jornalista profissional. Servidor Público. Pesquisador em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz). Especializado em Doenças Raras, Saúde Pública e Farmacoeconomia . Mestre e Doutor em Comunicação e Cultura (Eco/UFRJ). Prêmio José Reis de Jornalismo Científico concedido pelo CNPq.

5 comentários em “Pompe e Mesotelioma de Pleura com consultas públicas na CONITEC”

  1. Gente , Por favor , peço a compreensão a sugestao é a gentileza ,da alteração do protocolo na inclusão dos adultos para o tratamento da alfa glicolidase.Grato

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  2. Sou enfermeira e tenho pacientes adultos portadores de Pompe que apesar de algumas limitações da doença vivem com qualidade, trabalham e cumprem seu papel social, isso só é possível pelo tratamento de reposição enzimática com alfa glicosidade. É um grave erro não incluir os pacientes adultos no protocolo, precisamos contemplar também esses pacientes adultos no protocolo de tratamento com alfa glicosidase.

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