Há alguns anos publicamos aqui um post que tem feito muito sucesso neste blog (para lê-lo, clique aqui). Recomendamos fortemente que você o leia primeiro, antes de seguir com este post.
Se você gostou do post que publicamos sobre o Papai Noel naquela ocasião, vai gostar de ler esta continuação da história, publicada no famoso jornal norte-americano, que abaixo reproduzimos. Ela foi publicada originalmente em 24.12.17.
Papai Noel tem uma casa em Nova Iorque, em um prédio com uma colunata em frente à Estação Pensilvânia, onde fica a principal agência postal de Nova Iorque. Deve ser a casa do Papai Noel, porque é onde chegam cartas a ele endereçadas. As cartas vêm de todo lugar, dezenas de milhares delas a cada ano, enviadas por pessoas esperançosas e necessitadas. Todo Natal, novaiorquinos afetuosos se candidatam a serem dublês de Papai Noel. Dirigem-se à agência postal e vasculham as milhares de cartas em busca de pessoas a quem ajudar.
Papai Noel tem outra casa em Nova Iorque, se assim podemos chamar, em um edifício de tijolinhos na Upper West Side que abriga uma pequena escola com cerca de 110 alunos no pré-escolar. A Studio School, como é chamada, tem como endereço oficial a 117 West 95th Street, mas sua construção também engloba o nº 115. Há muito tempo atrás, esta era a casa do dr. Philip O’Hanlon, um médico e legista substituto do Departamento de Polícia.
A casa de Virginia O’Hanlon hoje abriga a Studio School.
Dr. O’Hanlon tinha uma filha de oito anos que, intrigada pelo ceticismo de seus ‘amiguinhos’ lhe indagou sobre a existência de Papai Noel. O pai sugeriu que ela escrevesse uma carta ao New York Sun, um diário popular de sua época. Não tenha dúvidas sobre onde isso foi parar. Em 21 de setembro de 1897, no que se converteu na mais frequentemente citada (e parodiada) frase de um editorial de um jornal norte-americano, o Sun escreveu: “Sim, Virginia, Papai Noel existe!”
“Ele existe”, prossegue o editorial, “como certamente existem a devoção, a generosidade e o amor, e você sabe o quanto eles vicejam e dão à sua vida seu mais alto grau de beleza e alegria. Ai de mim! Quão tedioso seria o mundo se não existisse Papai Noel. Seria tão tedioso como se não houvesse Virgínias. Não existiria a fé inocente, a poesia e o romance que tornam tolerável esta existência”
A prosa florida é de autoria de Francis Pharcellus Church, descrito em alguns relatos como sendo em geral grosseiro (um tipo familiar nos círculos dos redatores de editoriais) . Mas com este ensaio de pouco mais de 415 palavras , ele entrou em modo sentimental e ganhou seu lugar na cultura popular norte-americana.
Em 2011, o website da revista Smithsonian colocou o “Yes, Virginia” em uma lista dos “Dez editoriais mais inesquecíveis”. T. A. Frail, que compilou a lista da Smithsonian, classificou o editorial de Church como “uma obra-prima de determinação” (o trecho do Yes, Virginia)”, mas também de escapismo (a parte que diz que Papai Noel existe como existe o amor etc).
A diretora do Studio School, Janet Rotter, disse que Virginia era “parte de nosso espírito na escola”. De fato, Virginia O’Hanlon Douglas, seu nome de casada, poderia muito bem ter se sentido em casa lá, na medida em que foi professora e diretora na educação pública novaiorquina por 47 anos. Ela faleceu aos 81 anos, em 1971, mesmo ano de fundação do Studio School.
Virginia O’Hanlon, em dois momentos de sua vida.
A escola tem um programa de bolsas de estudos que leva seu nome. Pouco antes do recesso de Natal, a pergunta de Virginia e a resposta de Church foram lidas em voz alta para eles. Uma placa em sua memória, afixada na fachada do prédio, desde 2009, atrai visitantes curiosos de saber mais sobre ela, disse Ms. Rotter.
Uma placa na fachada da Escola recorda a linda história de Virginia, que ali se passou.
Há alguns anos, os estudantes foram instados a responder como teriam procedido diante da inquiridora garota de oito anos. Os pensamentos deles, veiculados em ensaios, revelaram uma apreciação pelos imponderáveis da vida. “Se você só acredita no que vê”, escreveu uma garota de 13 anos, “então você está perdendo um mundo todo lá fora cheio de mistérios místicos maravilhosos”. Outra menina, também de 13 anos, assim se pronunciou: “Devemos confiar no que não podemos ver e por nossa fé no desconhecido. Se abandonamos o que é desconhecido para nossos sentidos, como podemos verdadeiramente conhecer algo?”
“Eles não levam isso tão ao pé da letra”, disse Ms. Rotter, sobre como os seus alunos interpretam o editorial do Papai Noel. “Eles têm um profundo respeito pelo ideal”.
O que “yes, Virginia” reflete para eles é uma busca humana por algo mais elevado do que o que Church descreveu há 120 anos como “o ceticismo de uma era cética”. O ceticismo certamente resiste. Da mesma forma que este anseio.
Nota da Redação: Matéria originalmente publicada no New York Times, com o título Santa’s Manhattan Homes.
Servidor Público Federal e pesquisador em saúde pública da Fiocruz (Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca). Autor dos blogs “Academia de Pacientes 2030” e “Academia de Pacientes” . Interessa-se pela temática das doenças raras, em uma perspectiva sociológica e de saúde pública desde 2007. É membro do Grupo de Trabalho em Doenças Raras da Sociedade Brasileira de Pediatria e do consórcio de pesquisadores Social Pharmaceutical Innovation for Unmet Medical Needs (SPIN).
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